terça-feira, 10 de junho de 2008

REFÉNS DO MEDO

Hoje,
Educadores e educandos do Pará estão presos,
Não podem ver a luz a partir do interior
Obscuro de seu cativeiro.
Apenas sombras perpassam em sua frente
Na parede úmida de um cárcere
Ao qual chamamos de rede estadual de educação.

Diferente do Mito da Caverna,
Há dois tipos de presos:
Aqueles que não se percebem como tal,
Pois, se acostumaram a aceitar o regime,
As imposições do poder
Sublimadas como necessidade.
Parecem-lhes naturais a omissão e o descaso,
Por que sempre foi assim,
Ou acreditam já estar tudo sendo consertado.

Há mesmo desses prisioneiros no alto escalão, ou médio,
Ou submédio, nas escolas e pólos,
Que pensam estar revolucionando,
Mas apenas ajudam a escurecer
A visão alheia e a sua própria,
Seguindo mecanicamente o que impera
Uma ideologia tosca e senil.
Existe ainda outro desse tipo inconsciente,
O que se julga lúcido, mas,
Acaba sendo um crítico de sofá ou rede,
Rememorando nostálgico os “bons tempos”
Do movimento político e taxando
A atualidade de ingênua.

No entanto,
O segundo tipo está bastante consciente
De sua condição humana desgraçada.

O objetivo daqueles que os prenderam
Não é deixá-los assim, é libertá-los das correntes
Depois que eles se acostumarem a usá-las
Como adereço cotidiano.


Ou seja, é submetê-los ao seu mando
Com ameaças, pressões, coações
Mascaradas de agrado.
Eles valem mais enquanto sem correntes,
Pois, podem auxiliar a aprisionar outros tantos.
Eles não são bem escravos,
Por enquanto são reféns do poder,
O poder do medo,
Que não sabe dialogar,
Não sabe que diálogo supõe duvidar e questionar-se,
Analisar e mudar-se.

Estes educadores e estudantes
São em menor número.
Mas, não se acomodam,
Não se preocupam antes com suas férias
E depois com a qualidade da educação.
Estes querem e exigem mais,
Não esperam com infinita paciência
Por um governante-salvador.

São poucos. Porém, valem muito,
Não se rendem fácil.
Mesmo reféns desse medo,
Quando são atacados em sua subsistência,
Orgulho e imagem,
Agredidos em seus corpos e dignidades,
Mesmo assim,
Estão dispostos a abrir mais os olhos
E enxergam através da escuridão.

Sabem que esta caverna é poderosa,
Mas, entendem e sonham as razões de uma Justiça
Acima de favorecimento de compadres,
E sentem e desejam a fortaleza
De uma educação
Além de mentiras e atitudes covardes.

Não paguemos o resgate,
Não nos rendamos,
O preço é nossa alma.

Ricardo Torres, em 29 de maio de 2008.